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Artigo: DIEESE e o conjunto das organizações dos trabalhadores: unir, resistir e avançar
Por José Álvaro de Lima Cardoso Mas lastrear sua atuação com base na ciência, não significa ser neutro. Forjado numa sociedade de classes, o DIEESE se posiciona estatutariamente a “serviço da classe trabalhadora”, portanto se soma à luta pela justiça, soberania e igualdade no Brasil. É uma leitura do mundo, a partir de uma referência científica, com o objetivo de transformar a realidade para melhor. Isso significa que só tem sentido pesquisar o mercado de trabalho, por exemplo, se essa ação servir para os atores intervirem sobre a realidade social, mudando-a para melhor. Para transformar a realidade positivamente é essencial que o diagnóstico seja o mais preciso possível. Daí o rigor conceitual que o DIEESE procura imprimir à sua produção técnica e ao trabalho de assessoria, o que historicamente lhe garantiu seu maior patrimônio: credibilidade. A verdade interessa aos trabalhadores, mesmo que, em determinada conjuntura, ela possa atrapalhar este ou aquele progresso tático.
O DIEESE não tem patrimônio material. Seus ativos mais importantes são intangíveis: formação de quadro técnico comprometido com a verdade e com o País, e credibilidade da sua produção técnica. Reconhecida pelos próprios interlocutores patronais que, mesmo discordando da análise muitas vezes, não duvidam que a informação foi sistematizada de forma honesta e rigorosa conceitualmente. Esse é o principal patrimônio do DIEESE, assim como uma equipe que ingressou por méritos na instituição e preserva os seus princípios mais essenciais. Com muitas dificuldades, e necessários recuos táticos, os organizadores do DIEESE foram viabilizando ao longo dos anos as condições para a construção de uma entidade técnica, plural, unitária e democrática. Uma entidade científica não poderia ser dogmática, como se portadora fosse de verdades absolutas. Seria postura anticientífica, com risco de não funcionar no Brasil, dada a própria diversidade cultural do nosso povo. Nas ciências sociais e humanas a interpretação da realidade está permanentemente sujeita a variadas leituras. É a conhecida analogia do copo de água pela metade: está meio cheio ou meio vazio? As duas informações estão corretas, depende do ponto de vista do observador. Daí a necessidade da pluralidade e de abertura às diferentes interpretações, que o DIEESE ao longo da história tem sabido levar em conta. Talvez a maior virtude do trabalho do Departamento seja conseguir, ainda que com limitações, correlacionar os números frios da estatística e da economia, à luta social em busca de uma vida digna. A taxa de desemprego não é somente uma fria estatística. Ela representa para muita gente, fome, sofrimento e humilhações. Isso talvez seja o mais importante no trabalho do DIEESE: vincular os dados e indicadores ao movimento social, dando um significado para aqueles números e mostrando que eles não são um fim em si mesmo. Com o passar dos anos os dirigentes sindicais, e suas assessorias, foram percebendo o papel fundamental do conhecimento na luta política e social. Não basta reivindicar salários e direitos, por mais legítimo que seja. É fundamental também embasar as reivindicações em estudos regulares, profundos, criteriosos, e comprometidos com as melhores causas da sociedade brasileira. Neste momento em que os ataques da direita aos trabalhadores e suas organizações, visam destruir direitos fundamentais ao povo brasileiro, obtidos em décadas de sangue, suor e lágrimas, a hora é de resistir e fortalecer o DIEESE e demais organizações dos trabalhadores. — José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina |