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Artigo: O caminho mais curto para a barbárie
O artigo a seguir, do economista José Álvaro Cardoso dá panorama sobre a situação econômica enfrentada pelos trabalhadores brasileiros em vista do salário mínimo que deveria ser de 3,8 vezes o valor do nacional atual e as negociações coletivas diante de um período de baixo índice de inflação. Como mostram os dados sobre o peso da alimentação nos salários, este no Brasil são efetivamente muito baixos: segundo o IBGE, o rendimento médio do trabalhador brasileiro, que recuou no ano passado, está em R$ 2.112 (PNAD Contínua). Esse fato, em si, é razão mais do que suficiente para que os sindicatos de trabalhadores busquem permanentemente o aumento real nos salários. Estes dados, ao mesmo tempo, mostram a importância de uma regulação mínima das relações de trabalho no Brasil, como a existência do Salário Mínimo. O IBGE nos informa que em 2017 houve queda do salário médio real no Brasil, decorrência de uma grave recessão e de um ataque em massa aos direitos e à renda dos trabalhadores, a partir do golpe de Estado (que está em desenvolvimento). Podemos imaginar o que aconteceria com os salários médios, se fosse abolido o Salário Mínimo, como sonha uma parcela do empresariado. No Brasil é muito comum, após uma custosa negociação em mesa, que proporciona 1% de ganho real aos salários, as empresas, ao longo dos meses subsequentes à negociação, ajustar seus custos com mão de obra. Isto é feito através da redução do quadro de pessoal e também via rebaixamento salarial por meio da enorme rotatividade que caracteriza o mercado de trabalho no País. As empresas demitem os trabalhadores que ganham um pouco mais e contratam trabalhadores com o piso, ou até, se o acordo permitir, com salários abaixo do piso nos 90 dias de experiência. Em períodos de crise como o atual, inclusive, aumenta a diferença entre a média dos salários de demissão e de contratação. Neste momento estou participando de uma negociação onde o salário de admissão é 15% inferior ao de admissão. Como a rotatividade no Brasil é enorme, aquele 1% cedido na negociação a título de ganho real, é compensado largamente por essa estratégia de achatamento de salários reais. É comum empresas gigantes, de âmbito multinacional, com receita anual em torno de R$ 50 ou R$ 60 bilhões, praticarem salários médios de admissão de R$ 1.200 ou R$ 1.300, muito próximos dos pisos salariais estaduais, que são mínimos também, apesar de terem sido obtidos com muita luta sindical. Nessas grandes empresas, comumente o peso de pessoal no custo total são extremamente baixos: 10% ou 15% do valor líquido obtido com a receita líquida de vendas. Isto significa que o impacto de uma negociação de ganho real, nas despesas com pessoal, para cima ou para baixo, geralmente é muito reduzido, porque só incide sobre 10% do custo (que é o custo de pessoal). Aspectos como juros e câmbio, regra geral, têm impacto muito mais significativo sobre o custo de empresas com essas características. Em resumo, a maioria das negociações coletivas no Brasil é realizada para discutir a reprodução alimentar mínima do trabalhador e sua família. Se faz uma campanha salarial com muita dificuldade e, ao fim e ao cabo, se obtém o direito de renovar a condição de o trabalhador comprar comida todo mês para ele e sua família. Os padrões salariais no Brasil, para a maioria, não permitem nada além disso. E ainda existem os incautos, inclusive no interior da classe trabalhadora, que são contra a atuação dos sindicatos. A história do mundo revela que, sem sindicatos e organização dos trabalhadores o caminho para a barbárie nas relações entre capital e trabalho seria muito curto. |