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06/06/2016 | Economia

Um pré-sal para pronta entrega

Segundo a direção da Petrobrás a produção de petróleo operada pela empresa no pré-sal brasileiro atingiu novo recorde no dia 8 de maio, ultrapassando a marca de 1 milhão de barris por dia. O resultado foi obtido apenas após dez anos da descoberta destas jazidas, verdadeiro fenômeno da história do petróleo. O fato mostra a extraordinária produtividade do pré-sal: o primeiro milhão de barris diários de petróleo produzido pela Petrobras só foi atingido em 1998, quando a estatal tinha 45 anos de existência. E, como destaca a companhia, com um detalhe fundamental: o recorde foi atingido com a exploração de apenas 52 poços produtores, quando o primeiro milhão de barris diários foi alcançado com a exploração de mais de 8 mil poços produtores. Estes dados, por si só, explicam o grau de voracidade e apetite dos golpistas para cima da Petrobrás e do pré-sal.

 

Segundo a direção da Petrobrás, o custo de extração, que vem sendo gradativamente reduzido nos últimos anos, passou de US$ 9,1 por barril de óleo equivalente (óleo + gás) em 2014, para US$ 8,3 em 2015, e, no primeiro trimestre deste ano, chegou a um valor inferior a US$ 8. Segundo a estatal, o custo médio da indústria oscila em torno dos US$ 15 por barril de óleo equivalente.

 

Enquanto isso, o governo Temer anunciou que procurará acelerar a aprovação do PL 4567/2016, que retira da Petrobrás a condição de operadora única do pré-sal e acaba com a participação mínima de 30% nos campos licitados, como prevê o regime de Partilha. Se o projeto for aprovado na Câmara e sancionado pelo presidente interino, a Petrobrás deixa de ser a operadora única do pré-sal, conforme a Lei, passando a ser uma decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a concessão da preferência à empresa, assim como a participação mínima de 30% do investimento em cada campo explorado.

 

Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), se o projeto for aprovado, a empresa perderá 82 bilhões de barris petróleo, levando em conta as estimativas de que o Pré-Sal contenha 273 bilhões de barris de reservas. A aprovação do projeto cumpre um objetivo central do golpe que é abrir a exploração do pré-sal para as empresas estrangeiras. O projeto possibilita que, na prática, qualquer campo do pré-sal possa vir a ser explorado com 100% de participação estrangeira e zero de presença da estatal brasileira.

 

Não é casual que o pré-sal seja um dos objetivos centrais do golpe de Estado em curso no Brasil. Essas jazidas possuem taxa de produtividade bastante superior à média mundial, operando com tecnologia de ponta e risco zero em cada poço, sendo economicamente viável a partir de um barril em torno de U$45/50. O pré-sal já responde por 40% de todo o petróleo produzido no Brasil, o mais rápido resultado entre a descoberta da jazida e a disponibilização para consumo, da história do petróleo. O présal possui, dentre outras, uma grande vantagem que é escala das reservas, simplesmente extraordinária, considerando que possui 45 bilhões de barris em reserva de óleo recuperável (algumas estimativas mencionam número bem maior, que pode chegar ao dobro). O pré-sal garante 88% de óleo recuperável sobre o total existente nas reservas, número que é de 75% na Arábia Saudita, 65% na Rússia e 55% nos EUA.

 

Se o governo golpista atingir seus objetivos na Petrobrás e no pré-sal, o país perderá o passaporte para o desenvolvimento, possibilitado pelo pré-sal e o modelo de exploração adotado a partir de 2009, o de partilha. Este modelo, mesmo com limitações, controla melhor a produção do pré-sal, possibilitando uma apropriação melhor da produção por parte da nação. Os argumentos para entregar o petróleo para as multinacionais, trazidos principalmente pelo entreguista Serra, são os mais esdrúxulos possíveis e foram, um a um, destruídos pelos engenheiros da Companhia e outros especialistas.

 

Com a quebra da exclusividade da Petrobrás no pré-sal iremos perder o controle e o ritmo da exploração, já que as multinacionais do petróleo são essencialmente predatórias. A condição da Petrobras como operadora única garante fiscalização e controle na extração de petróleo. Possibilita, ademais, que a Petrobrás priorize a encomenda de insumos, equipamentos e navios brasileiros, impulsionando toda uma indústria, gerando emprego, renda e desenvolvimento do país. É fato largamente conhecido que as multinacionais não investem na indústria nacional, adquirindo as plataformas de petróleo somente no exterior.

 

O PL é um primeiro momento da entrega do pré-sal, objetivo maior das multinacionais do petróleo. Aprovado o projeto obviamente tentarão liquidar de vez com o modelo de Partilha. As multinacionais não apoiaram o golpe por acaso: querem, para a exploração do pré-sal, o modelo de Concessão, no qual a empresa adianta um valor ao Tesouro e embolsa 100% dos lucros do petróleo extraído. Nesse regime, todo o investimento foi bancado pelo povo brasileiro (através da Petrobrás), e o risco para as multinacionais é zero, pois o petróleo já foi localizado.

 

Boa parte dos movimentos e riscos de guerra no planeta, invariavelmente protagonizados pelo Pentágono, estão diretamente relacionados à disputa pelo controle do petróleo, gás natural e outros recursos minerais disponíveis no mundo. No Brasil, como construção do processo golpista, disseminou-se a ideia de que a Petrobrás é um antro de corrupção e de ineficiência, quando é exatamente o contrário. Essa imagem é fruto da construção meticulosa do golpe, ainda que os incautos nem sonhem com essa possibilidade.

 

José Álvaro de Lima Cardoso - Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.