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Desastre em São Francisco: Novamente modelo de desenvolvimento põe em risco a vida da população
São Francisco do Sul é uma cidade
catarinense famosa por ser uma das três mais antigas do Brasil e dispor de
centro cultural da história brasileira muito importante. Além do turismo,
também convive com a rotina diária da chegada e saída de navios que atracam num
dos mais importantes portos do Sul do Brasil ? o Porto de São Francisco do Sul.
É neste porto que se concentram inúmeras empresas exportadoras e importadoras,
as quais dispõem de armazéns a fim de carregamento ou distribuição. Este porto,
assim como outros é a porta de entrada de insumos utilizados para a formulação
de fertilizantes e pesticidas que depois de prontos seguem para o campo
brasileiro.
Na noite de terça-feira (24) um
incêndio num galpão de fertilizantes da empresa Global Logística, provocou
alarme na população. Após o inicio de uma reação química, a qual ainda não se
sabe os motivos, gerou uma imensa nuvem de fumaça, colocando a cidade em
pânico, visto aos riscos que se expõe.
Dos
riscos...
Estes riscos se devem por que o
Nitrato de Amônio é oxidante e reage com outros produtos, sendo que quando
contaminado com produtos orgânicos ou materiais oxidantes, aquecido, confinado,
e ainda sob ação de agentes iniciadores, pode detonar. Além disso, existe risco
de ignição ou detonação (explodir) ao expor o produto ao calor e a materiais
incompatíveis, ou seja, a outros produtos químicos que devem ficar separados.
Quando ocorre esta reação química se
produz uma enorme quantidade de fumaça (o nitrato de amônio é utilizado para
fazer bombas de fumaça, coquetéis Molotov, pólvora e fogos de artifício). Esta
fumaça, quando inalada pode provocar uma reação inflamatória nas vias
respiratórias e no pulmão, causando inchaço da mucosa da laringe, podendo,
conforme a gravidade, ocorrer descamação e necrose da mucosa provocando
insuficiência respiratória. Além disso, segundo o professor-doutor
do curso de química do Instituto Federal Catarinense de Araquari Rafael Carlos
Eloy Dias a exposição pode ocasionar meta-hemoglobina (câncer) ou, em
mulheres grávidas, aborto espontâneo e má-formação fetal.
Preocupações...
Além dos riscos a saúde humana pelo
contato direto, quando detonado os gases emitidos neste incêndio químico
(reação) se forma compostos potenciais, como o nitrato de amônia (NH3) que
provocam danos maiores ao homem e ao meio ambiente. Além disso, existem os
riscos secundários, ou seja, a ingestão a partir dos alimentos e água
contaminados. Portanto, a preocupação em tranquilizar a população neste momento
de pânico, deve ser revertida posteriormente em promover o acesso a alimentos
saudáveis e água não contaminada, a fim de garantir a saúde da população.
Dado os fatos, é sempre depois da
ocorrência da tragédia, que se vem a preocupação dos cuidados e riscos que
estes produtos nos expõe. O Nitrato de Amônio é largamente utilizado na
fabricação de fertilizantes, pesticidas e inseticidas, fabricação de
explosivos, entres outros. Neste aspecto cabe destacar que os espaços onde se
concentram estes produtos, são verdadeiras bombas, que basta apenas acender o
estopim.
Mas o porquê esta concentração nos
portos? O Brasil é um grande importador destes insumos, a fim de formular
fertilizantes e pesticidas para suprir a larga escala de consumo exposta pelo
setor do agronegócio brasileiro. Já no campo, são utilizados em grandes
quantidades em outra formulação, porém que tem impacto direto sobre os microrganismos
presentes no solo, destruindo a biodiversidade dos sistemas onde é utilizado,
sem a qual não há nem florestas nem campos agrícolas. Portanto, as preocupações
com a reações químicas ocorridas no Galpão de São Francisco do Sul aparecem
devido a nuvem de fumaça que esta levanta, enquanto o sistema convencional
brasileiro joga milhares de toneladas anualmente no ambiente destes produtos.
Portanto, inicialmente é preciso ser
solidário a preocupação das famílias de São Francisco, porém se faz necessário
que os governos percebam que o modelo de desenvolvimento agrícola e industrial
adotado coloca em risco a vida e a sobrevivência das pessoas, seja no imediato,
ou de longo prazo. De imediato pelo risco de fatos como este voltarem a ocorrer
e de longo prazo pelo consumo dos alimentos ou da água contaminada e pelos
efeitos secundários como o aquecimento da atmosfera - composto agravante do
efeito estufa, 273 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono - e as mudanças
climáticas que estão diretamente ligados ao uso de produtos como o Nitrato de
Amônio, que após reagir se torna nocivo ao ambiente.
Questionamentos...
Por fim, agora cabe ao poder público
reparar os prejuízos causados e socorrer a população. Fica a pergunta, quais
medidas serão adotadas a fim de evitar novos fatos como este? Olhar-se-á mais
profundamente o uso destes produtos químicos e se investirá em programas que
fomente um desenvolvimento mais sustentável? Quando se adotar medidas e fomentar
programas que busquem um modelo de desenvolvimento sustentado no uso de
técnicas mais ecológicas, haverá menos impacto sobre o meio ambiente e
consequentemente menos efeitos sobre o clima e se poderá ter um ambiente
equilibrado que proporcione harmonia entre homem e natureza.
Fonte: MST - Marcelo Antonio Kehl e Alvaro Santin