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06/02/2014 | Movimentos Sociais

Às vezes a única coisa certa no jornal é sua data de publicação

Sob o título “A Invasão do Direito”, o editorial do jornal Notícias do Dia, de Florianópolis, distorce e omite princípios legais e fatos. Não é a primeira vez e nem será a última que qualquer ação organizada pelo povo será omitida e destorcida pela mídia de negócios. Um fato para ilustrar: dia 24 de janeiro de 1983, 31 anos atrás aconteceu o Comício na Praça da Sé, em São Paulo, que exigia eleições diretas e o fim da ditadura. Tinha mais de 300 mil pessoas, a Rede Bobo de TV noticiou aquele fato histórico como sendo comemoração pelo aniversário de São Paulo. E assim seguem sendo todas as mídias que vendem seus negócios como se fossem verdades. Foi assim que a RBS escondeu o caso do estupro de uma jovem por outros jovens filhos de figurões da emissora. Foi assim que a RIC, afiliada da Record aqui no Estado, que imprime o Noticiais do Dia, tratou a Ocupação Amarildo, omitindo e distorcendo.

 

Começamos pela distorção: Eles, os editorialistas, afirmam que o povo de Floripa assiste perplexo a favelização na principal via de acesso às praias mais badaladas do país (sic). Ora, não tem problema nenhum ser Favela, a querida Cnidoscolus quercifolius popularmente chamada de favela ou mandioca-brava, é uma planta da família das euforbiáceas. É endêmica do Brasil. Favela, outrora apenas nome de uma planta comum hoje é sinônimo de moradia do povo trabalhador que é explorado e alienado da sua força de trabalho e oprimido pela lei de classe, que é o ponto central da distorção do direito que fazem os editorialistas. O direito à propriedade privada não é o principio básico do Direito (inclusive a grafia do editorial está errada, grafam em minúsculo o Direito). O principio básico do Direito é a norma jurídica.

 

No caso do Editorial, os editorialistas querem que o leitor seja induzido a pensar que os Movimentos Sociais ameaçam os direitos legais individuais e coletivos. Paremos para pensar um pouco sobre o exemplo da Rede Esgoto de TV e o Comício pelas Diretas. Foram o Movimento Social, a igreja, os partidos de esquerda e personalidades que reivindicaram nas ruas os direitos sociais individuais e coletivos que culminaram na Constituição vigente. Essa, que lega com todas as letras os Direitos e Garantias Fundamentais dentre os quais destacamos o trabalho, a moradia digna, a educação, a liberdade, a saúde, a terra, entre outros. Mas, segundo a visão do jornal esses mesmos Movimentos hoje ameaçam o direitos conquistados ao exigirem que os direitos saiam do papel. Difícil de entender, não é mesmo?

 

O ponto xenófobo: todas as mídias, para atacar os pobres e os trabalhadores que vivem e trabalham em Floripa, lançam mão do argumento nojento de que somos famílias vindas de outros municípios e Estados. Imaginem se os Guarani, que vivem nessas terras desde sempre, tivessem jornais no tempo da invasão. Hoje, nós poderíamos saber como foram recebidos os açorianos e demais famílias imigrantes que vieram de fora, para construir esse estado. Até sabemos, pela História, que alguns foram acolhidos, recebidos como amigos, treinados para sobreviver, e aqui se casaram, assassinando, depois, aqueles que os receberão tão bem. Este argumento reforça a visão de que aqui só são bem-vindos os ricos, podem ser de qualquer país, desde que sejam ricos. Ou turistas, igualmente ricos. Uma pergunta: Quem serve nos bares, nos restaurantes? Quem lava a louça? Quem é o caixa do supermercado? Quem limpa o quarto de hotel? Quem prepara o alimento, faz a segurança, recolhe o lixo, quem? São os trabalhadores que migram de lugar para lugar onde encontram trabalho e melhores condições de vida. Trabalhadores que nasceram em um lugar e tem que sair em busca da sobrevivência. Sobreviver, porque viver é outra coisa.

 

A omissão: Os editorialistas criticam a inoperância do poder publico para reprimir a Ocupação, contudo não criticam que nos 25 anos desde a promulgação da Constituição apenas aumentou o déficit de moradia (hoje são mais de 25 milhões de sem casas). Tampouco criticam o fato de que o governo tem a previsão de cem novas moradias daqui dois anos e que o atual déficit é de 15 mil pessoas sem casa e com direitos. Essas informações são repassadas e essa crítica não é feita aos poderes públicos. A imprensa deveria atuar no sentido de cobrar a implementação das políticas de moradia e não incitar a repressão e o preconceito. Os editorialistas omitem o fato legal de que o terreno em disputa é uma área rural, que os proprietários alegados apenas apresentaram à Justiça documentos que compravam posse sobre menos de 1% do total da área, que o INCRA está vistoriando e que nada disso é ilegal como eles tentam fazer acreditar a quem lê o editorial de Domingo, dia 27/1/14. Dizem que os proprietários têm direitos sobre os imóveis. Sim, eles tem, desde que tenham sido comprados por eles, e não grilados, como de fato foram.

 

Por último o mais absurdo: dizem que por causa dos movimentos sociais o Brasil caminha para desordem institucional, à margem da Constituição e à margem do próprio conceito de democracia (que conceito? O deles?) face ao populismo e a demagogia motivados por interesses diversos, difusos e obscuros, e sempre ligados à ATIVIDADES POLITICAS PARTIDÁRIAS. Se dermos uma olhada nos editorias que antecederam o golpe militar e civil que derrubou o Presidente João Goulart e instaurou a ditadura por mais de 30 anos no Brasil vamos encontrar as mesmas palavras e argumentos usados pelos os donos de jornais como o Noticia do Dia e de toda a imprensa privada de Santa Catarina. Cuidado com o que desejam editorialistas!

 

 

Por Cris Mariotto (Índio), Assistente Social e Secretário dos Caciques Guarani do Estado de Santa Catarina.

 

Fonte: Desacato