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11/09/2013 | Mundo

Após 40 anos do golpe, modelo de Pinochet está em 'xeque' no Chile

Quarenta anos depois do golpe de Estado de 1973, o modelo econômico e político legado pela sangrenta ditadura de Augusto Pinochet é questionado no Chile e cresce o clamor para conhecer toda a verdade e poder, enfim, cicatrizar as feridas.

O aniversário do golpe de Estado comemorado nesta quarta-feira (11) acontece em um Chile repleto de mobilizações sociais que buscam acabar com a herança da ditadura, às vésperas de uma eleição presidencial.

O dia 11 de setembro de 1973 ficou marcado na história do país após as forças golpistas bombardearem por terra e ar o Palácio Presidencial de La Moneda, no qual depois presidente socialista Salvador Allende se suicidou, e Pinochet tomar o poder e promover a ditadura no Chile.

"Hoje, nós vemos outro país. Um país que resolveu sair para protestar por diferentes demandas (...), com um maior grau de consciência e uma definição clara de que se tem de mudar tudo que foi herdado da ditadura. Isso nos faz enfrentar os 40 anos de uma maneira completamente diferente", diz à AFP a presidente do Grupo de Familiares de Detidos-Desaparecidos, Lorena Pizarro.

"Esta comemoração nos encontra no final de um ciclo político que nasce na ditadura, continua na transição e que hoje, objetivamente, está acabando", analisa o sociólogo Alberto Mayol, autor do best seller "El derrumbe del modelo".

Estimulada pelos estudantes, que gritam nas ruas "e vai cair... e vai cair... a educação de Pinochet!", a sociedade civil chilena exige mudanças em um sistema econômico situado no extremo liberal. É um modelo que coloca o Chile às portas de se tornar um país desenvolvido, mas que evolui com grande desigualdade e um sistema político pouco representativo.

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"Toda a obra ditatorial está em xeque hoje em dia", acrescenta Mayol.

Junto com um grupo de discípulos do economista americano Milton Friedman, Pinochet conseguiu fazer a economia decolar, após a privatização da saúde, da educação, do sistema previdenciário e de uma abertura quase total da de sua economia para o exterior.

O Chile está prestes a bater uma renda per capita de US$ 20 mil anuais, a mais alta da região, enquanto os governos da transição democrática conseguiram reduzir a pobreza de 40% para 14%, desde 1990. No entanto, as disparidades sociais ainda persistem.

"Não achamos que se esteja buscando uma mudança radical de voltar ao que tivemos antes dos anos 1970, mas se está buscando, talvez, maior participação de alguns grupos neste modelo. Não é que queiram estar fora do modelo, mas ser mais parte do modelo", afirma o pesquisador do Instituto Liberdade e Desenvolvimento, Francisco Klapp, cuja instituição é de orientação liberal.


Próximas eleições


A dois meses das eleições presidenciais, é também o futuro de um modelo que está em jogo.

A ex-presidente socialista Michelle Bachelet, ampla favorita na corrida ao La Moneda, prometeu uma profunda reforma política para resgatar hipotecas da ditadura, o que inclui a elaboração de uma nova Constituição, deixando para trás a que foi imposta por Pinochet em 1980.

Já sua principal adversária e representante da direita, Evelyn Matthei, pretende manter o modelo.

"Agrada-me que haja mulheres na política, mas não vamos nos enganar. Aqui há uma corrida de projetos de país distintos", frisou Bachelet, em discurso recente para marcar suas diferenças com Matthei.

Passados 40 anos do golpe de Estado, por ironia do destino, a campanha eleitoral coloca em campos opostos duas mulheres que compartilharam a infância, mas cujas vidas tiveram trajetórias diversas depois do fatídico 11 de setembro.

Os pais de ambas eram generais da Força Aérea e tinham uma estreita amizade. Enquanto Alberto Bachelet foi detido nesse mesmo dia por se manter leal a Allende, morrendo meses depois vítima de torturas, Fernando Matthei integrou a junta militar de Pinochet.

Michelle Bachelet e sua mãe foram presas, torturadas e tiveram de deixar o país rumo ao exílio. Já Evelyn Matthei fez parte do círculo íntimo do ditador.


Busca da verdade

Junto com os pedidos por mudanças, cresce a reivindicação da sociedade para saber toda a verdade de uma ditadura que deixou mais de 3.200 mortos, e na qual mais de 38 mil pessoas foram torturadas. Conforme se aproxima a data de comemoração, a revisão por parte da imprensa dos principais crimes reabriu as feridas de uma sociedade que ainda está muito longe de se reconciliar.

"Com o passar do tempo, reconciliação e justiça se tornaram antíteses. Em qualquer país, a justiça pode levar à reconciliação. No Chile, a reconciliação é sinônimo de injustiça e de impunidade. Infelizmente, não se avançou na justiça necessária para provocar um reencontro", comentou Lorena Pizarro.

"Não se pode fechar ciclos, enquanto não forem ditas as coisas que foram omitidas. Passaram-se 40 anos, e há muitas coisas que estão apenas começando a aflorar", disse Isabel Allende, senadora e filha do ex-presidente socialista.

A Justiça chilena mantém abertos cerca de 1.300 processos por crimes cometidos nos 17 anos da ditadura, com pelo menos 800 agentes civis e militares processados, ou condenados. Desse total, cerca de 70 cumprem pena atrás das grades - quase todos em recintos militares especiais.

O então chefe da temida polícia política da ditadura (a Dina), Manuel Contreras, está preso e cumpre pena de mais de 200 anos. Já Pinochet morreu há sete anos, sem ter sido condenado.


O golpe militar e a ditadura

Em 11 de setembro de 1973, o então general e chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet, comandou um golpe militar para derrubar o então presidente Salvador Allende, que representava uma coalizao de esquerda. Pinochet governou o Chile de 1973 até a realização de um plebiscito popular em 1988, que o impediu de continuar no poder e abriu caminho para a democracia no país.

Um ano após o golpe, Pinochet ordenou o assassinato daquele que o havia precedido na chefia do Exército e recomendado seu nome a Salvador Allende: o general Carlos Prats, um homem com uma brilhante carreira militar, que morreu com sua esposa Sofia Cuthbert na explosão de uma bomba colocada em seu carro, em Buenos Aires.

O duplo assassinato foi o prelúdio da macabra Operação Condor, uma conspiração das ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores idealizada por Pinochet.


Mas, dois anos mais tarde, foi muito mais longe: em 21 de setembro de 1976, a poucos quarteirões da Casa Branca, na capital dos Estados Unidos, um carro-bomba matou o ex-chanceler chileno Orlando Letelier e sua secretária americana Ronnie Moffitt.

Mesmo antes dos ataques ao Pentágono, em Washington, e às Torres Gêmeas em Nova York, em 2001, o ataque a Letelier foi considerado o primeiro ato de terrorismo em solo americano.

Pinochet também construiu um campo de concentração semelhante aos usados pelos nazistas para manter presos políticos. O local ficava na ilha no Estreito de Magalhães e com temperaturas abaixo de zero, os prisioneiros eram submetidos a trabalhos forçados e dormiam em celas superlotadas.

Paul Schaefer, ex-enfermeiro do exército nazista alemão que chegou ao Chile em 1961, colaborou com Pinochet para deter, torturar e enterrar opositores no enclave construído no sul do país, apelidado de 'Colônia Dignidade'.

A ditadura também desenvolveu armas químicas, como sarin, e aperfeiçoou pela mão do químico Eugenio Berrios. Segundo a jornalista Mónica González, uma das maiores investigadoras das violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura de Pinochet, Berrios produziu sarin, soman e tabun, para uso em conflitos com os países vizinhos e contra opositores.

Quando começaram os primeiros protestos contra o seu regime, no início dos anos 1980, Pinochet buscou distrair a população com misteriosas aparições da Virgem por meio de um menino vidente. As aparições no pequeno povoado de Peñablanca chegaram a atrai até 100 mil fiéis.

O sacerdote Jaime Fernández foi designado pela Igreja para explicar as aparições. Tempos depois, foi revelado que tudo não passava de uma farsa elaborada pela ditadura. Segundo relata à AFP, o menino repetia o que os serviços secretos mandava -tanto mensagens para os católicos como críticas à Igreja-, enquanto queimavam palha e gasolina, formando nuvens de fumaça.

Estima-se que mais de 3,2 mil pessoas morreram em oposição ao regime e que cerca de 38 mil tenham sido vítimas de tortura. Allende teria cometido suicídio durante a ofensiva do exército que tomou do Palácio de La Moneda, sede do governo, em Santiago.


Fonte: AFP