BLOG SINDASPI-SC
EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX
O presidente estadunidense, Barack Obama,
participou em Washington, de evento comemorativo pelo
aniversário de 50 anos do emblemático discurso "Eu tenho um Sonho", de Martin
Luther King Jr. - considerado um marco da igualdade de direitos civis aos
afro-americanos. Enquanto isso, entre becos e vielas dos EUA, os negros não vão
ter muitos motivos para celebrar ou "sonhar com a esperança", como
bradou Luther King em 1963.
De acordo com sociólogos e especialistas em
estudos das camadas populares na América do Norte, os índices sociais - que
incluem emprego, saúde e educação - entre os afrodescendentes norte-americanos
são os piores em 25 anos. Por exemplo, um homem negro que não concluiu os
estudos tem mais chances de ir para prisão do que conseguir uma vaga no mercado
de trabalho. Uma criança negra tem hoje menos chances de ser criada pelos seus
pais que um filho de escravos no século XIX. E o dado mais assombroso: há mais
negros na prisão atualmente do que escravos nos EUA em 1850, de acordo com
estudo da socióloga da Universidade de Ohio, Michelle Alexander.
"Negar a cidadania aos negros norte-americanos
foi a marca da construção dos EUA. Centenas de anos mais tarde, ainda não temos
uma democracia igualitária. Os argumentos e racionalizações que foram pregadas
em apoio da exclusão racial e da discriminação em suas várias formas mudaram e
evoluíram, mas o resultado se manteve praticamente o mesmo da época da
escravidão", argumenta Alexander em seu livro The New Jim Crow.
No dia em que médicos brasileiros chamaram
médicos cubanos de "escravos", a situação real, comprovada por estudos de
institutos como o centro de pesquisas sociais da Universidade de Oxford e o
African American Reference Sources, mostra que os EUA têm mais características
que lembram uma senzala aos afrodescendentes que qualquer outro país do mundo.
Em entrevista a Opera Mundi, a professora da
Universidade de Washington e autora do livro "Invisible Men: Mass Incarceration
and the Myth of Black Progress", Becky Pettit, argumenta que os progressos
sociais alcançados pelos negros nas últimas décadas são muito pequenos quando
comparados à sociedade norte-americana como um todo. É a "estagnação social" que acaba trazendo as comparações com a época da escravidão.
"Quando Obama assumiu a Presidência, alguns
jornalistas falaram em "sociedade pós-racial" com a ascensão do primeiro
presidente negro. Veja bem, eles falaram na ocasião do sucesso profissional do
presidente como exemplo que existem hoje mais afrodescendentes nas
universidades e em melhores condições sociais. No entanto, esqueceram de dizer
que a maioria esmagadora da população carcerária dos EUA é negra. Quando se
realizam pesquisas sobre o aumento do número de jovens negros em melhores
condições de vida se esquece que mais que dobrou o número de presos e mortos
diariamente. Esses não entram na conta dos centros de pesquisas governamentais,
promovendo o "mito do progresso entre nos negros", argumenta.
Segundo Becky Pettit, não há desde o começo da
década de 1990 aumento no índice de negros que conseguem concluir o ensino
médio. Além disso, o padrão de vida também despencou. Além do aumento da
pobreza, serviços básicos como alimentação, saúde, gasolina (utilidade
considerada fundamental para os norte-americanos) e transportes público estão
em preços inacessíveis para muitos negros de baixa renda. Mais de 70% dos
moradores de rua são afrodescendentes.
Michelle Alexander, por sua vez, critica o
sistema judiciário do país e a truculência que envia em massa às prisões os
negros. "Em 2013, vimos o fechamento de centenas de escolas de ensino
fundamental em bairros majoritariamente negros. Onde essas crianças vão
estudar? É um círculo vicioso que promove a pobreza, distribui leis que
criminalizam a pobreza e levam as comunidades de cor para prisão", critica em
entrevista ao jornal LA Progresive.
Fonte: Ópera Mundi