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Mujica rejeita título de "presidente mais pobre do mundo"
Para chefe de Estado uruguaio, "pobre é quem precisa de muito para viver".
Segundo ele, sua vida austera tem como objetivo "manter-se livre"
O presidente do Uruguai, José
Mujica, afirmou em entrevista concedida na sexta-feira (17) à rede estatal
chinesa Xinhua que não concorda com o título que lhe foi atribuído pela
imprensa internacional de "presidente mais pobre do mundo", em razão de seu estilo
de vida simples. Segundo ele, esse título é incorreto porque "pobres são
aqueles que precisam de muito para viver". Segundo ele, sua vida austera tem
como objetivo "manter-se livre".
"Eu não sou pobre. Pobre são
aqueles que precisam de muito para viver, esses são os verdadeiros pobres, eu
tenho o suficiente", afirmou.
"Sou austero, sóbrio,
carrego poucas coisas comigo, porque para viver não preciso de muito mais do
que tenho. Luto pela liberdade e liberdade é ter tempo para fazer o que se
gosta?, disse o presidente. Ele considera que o indivíduo não é livre quando
trabalha, porque está submetido à lei da necessidade. "Deve-se trabalhar
muito, mas não me venham com essa história de que a vida é só isso".
Assim como já fez com outros
correspondentes internacionais, Mujica recebeu a equipe de reportagem chinesa
em sua modesta propriedade rural em Rincón del Cierro, nos arredores de
Montevidéu, ao lado dos cães e galinhas que cria e alimenta todos os dias.
Aos 77 anos, Mujica doa 90% de
seu salário de 260 mil pesos uruguaios (quase 28 mil reais) a instituições de
caridade. Não possui cartão de crédito nem conta bancária. Sua lista de bens em
2012 inclui um terreno de sua propriedade e dois com os quais conta com 50% de
participação, todos na mesma área rural ? diz ter alma de camponês, e se
orgulha de sua plantação de acelgas, e já pensa em voltar a cultivar flores.
Possui dois velhos automóveis dos
anos 1980 (entre eles um Fusca com o qual vai ao trabalho) e três tratores.
Segundo o presidente uruguaio,
essa opção de vida foi gestada durante os anos em que viveu preso sob duras
condições (1972-1985) em razão de sua atividade como guerrilheiro como membro
do MLN-T (Movimento de Libertação Nacional - Tupamaru), movimento que lutou
contra a ditadura militar.
"Por que cheguei a esse
ponto? Porque vivi muitos anos em que, quando recebia um colchão à noite para
dormir, já me dava por contente. Foi quando passei a valorizar as coisas de
maneira diferente", disse ele sobre seus tempos de cárcere, quando disse ter
passado a conversar com rãs e formigas para não enlouquecer.
Ele afirmou duvidar que a próxima
eleição presidencial, marcada para 2014, vá atrapalhar sua gestão, e se diz
animado com um projeto pessoal para quando deixar o Executivo, em março de
2015: "Quando terminar esse trampo (changa em espanhol, referindo-se à
Presidência) que tenho agora, vou me dedicar a fazer uma escola de trabalhos
rurais nesta região?.
"O governo funcionará até o
último dia, mas já adianto que após as eleições os governos uruguaios costumam
tomar medidas de impacto", quando se espera avançar medidas de infraestrutura
sobre portos em águas profundas e a renovação da rede ferroviária, além da lei
de regulação da mídia.
Perguntado se após deixar o governo ele tentará acumular fortuna, ele disse: "Depois terei de gastar tempo para cuidar do dinheiro e muito mais tempo da minha vida para ver se estou perdendo ou ganhando. Não, isso não é vida", enfatizou.
Fonte: Ópera Mundi