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27/08/2013 | Mundo

Não há uma bandeira grande o bastante para cobrir a vergonha de matar gente inocente

Abaixo a carta em que Bradeley Manning, condenado por revelar chacina de civis pelos EUA, reivindica o indulto.

"As decisões que eu tomei em 2010 tiveram como motivo a preocupação por meu país e o mundo em que vivemos. Desde os trágicos eventos do 11 de Setembro, nosso país tem estado em guerra. Temos estado em guerra com um inimigo que escolheu não nos encontrar nos campos de batalha tradicionais, e devido a este fato nós tivemos de alterar nossos métodos de combater os riscos impostos a nós e nosso modo de vida.

Eu concordei inicialmente com esses métodos e escolhi ser voluntário para ajudar a defender meu país. Somente quando estive no Iraque e passei a ler relatórios militares secretos diariamente foi que comecei a questionar a moralidade do que nós estávamos fazendo. Foi nesse tempo que eu compreendi que em nossos esforços para fazer frente aos riscos que nos eram impostos pelo inimigo, nós esquecemos nossa humanidade. Nós conscientemente escolhemos desvalorizar a vida humana no Iraque e no Afeganistão. Quando agíamos contra aqueles que percebíamos como inimigo, às vezes matamos civis inocentes. Sempre que matamos civis inocentes, ao invés de aceitar a responsabilidade por nossa conduta, nós optamos por nos esconder atrás do véu da segurança nacional e informação secreta a fim de evitar qualquer prestação de contas ao público.

Em nosso zelo para matar o inimigo, nós internamente debatemos a definição de tortura. Mantivemos indivíduos em Guantánamo por anos sem o devido processo. Inexplicavelmente, viramos um olho cego para a tortura e execuções do governo iraquiano. E compactuamos com incontáveis outros atos em nome da nossa guerra ao terror.

Muitas vezes o patriotismo é exaltado aos gritos enquanto atos moralmente questionáveis são defendidos por aqueles no poder. Quando tais gritos abafam qualquer dissensão que tem base na lógica, geralmente trata-se de que foi dada ao soldado americano a ordem de desempenhar alguma missão mal concebida.

Nossa nação tem tido momentos negros similares diante das virtudes da democracia - a Trilha de Lágrimas [N.HP - a expulsão dos índios cherokees de suas terras], a decisão Dred Scott [a sentença da Suprema Corte que manteve escravo um negro que fora para um estado onde não havia escravidão], o McCarthismo, e os campos de internamento dos nipo-americanos - para mencionar alguns. Estou confiante que muitas dessas ações desde o 11 de Setembro serão um dia vistas sob luz similar.

Como o saudoso Howard Zinn disse uma vez, "Não há uma bandeira grande o bastante para cobrir a vergonha de matar gente inocente".

Eu compreendo que minhas ações violaram a lei; eu lamento se minhas ações atingiram alguém ou causaram dano aos Estados Unidos. Nunca foi minha intenção atingir quem quer que seja. Eu só queria ajudar o povo. Quando eu escolhi divulgar informação secreta, o fiz por amor ao meu país e por senso de dever aos outros.

Se você negar meu pedido de indulto, eu cumprirei meu tempo [de sentença] sabendo que às vezes tem-se de pagar um pesado preço para viver numa sociedade livre. Eu pagarei com alegria esse preço se isso significar que nós poderemos ter um país que seja verdadeiramente concebido na liberdade e dedicado à proposição de que todas as mulheres e homens são criados iguais."

 

Manning: quando denunciar é mais grave do que cometer crimes

 

 

 

Escrito por Luiz Eça   

Qui, 22 de Agosto de 2013

 

Manning revelou coisas tão erradas que seu juramento de patriotismo e seu respeito ético ao código militar de conduta tiveram de ser postos de lado, diante de sua "moralidade fundamental".

Essas palavras de John Watson, professor de ética no jornalismo da American University, justificam a atitude de Bradley Manning.

Mas não o absolveram de 19 acusações de crimes militares, que o condenaram a 35 anos de prisão.

Na verdade, Manning foi condenado por denunciar crimes cometidos pelas forças armadas norte-americanas.

Para o governo dos EUA, que o processou, em certos casos é mais grave a denúncia de crimes do que os próprios crimes.

Bush e sua coterie enganaram o povo norte-americano para poderem atacar o Iraque, sem motivo algum, causando a morte e o sofrimento de milhões de pessoas, inclusive a morte de 4 mil de seus soldados.

Jamais foram processados por terem provocado uma guerra, o que o Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os crimes nazistas, considerou "o supremo crime internacional".

Bush, também, ordenou secretamente a vigilância das comunicações das pessoas, sem mandado judicial, violando a Constituição.

Seu programa de "rendições" promoveu secretamente o sequestro de suspeitos no exterior e sua tortura em casas ocultas da CIA. Crime, segundo a constituição e as leis internacionais.

Obama recusou-se terminantemente a processar qualquer dos envolvidos nessas ações criminosas.

No seu governo, casos de tortura foram reportados no Afeganistão, em Guantánamo e na África. Novamente ninguém foi submetido a processo.

A prisão de Guantánamo, condenada em todo o mundo, que Bush fundou, foi mantida por Obama. Hoje, entre os 166 detentos, há 86 já isentados de qualquer acusação. Mesmo inocentes, ficaram presos por muitos anos. E lá continuam.

Uma interpretação distorcida da lei coloca os detentos de Guantánamo num limbo legal, sem proteção, nem das leis norte-americanas, nem da Convenção de Genebra.

O assassinato de suspeitos por drones no Paquistão, embora também atingisse centenas, senão milhares de civis inocentes (obra de Bush), foi multiplicado por Obama.

Ele incluiu ainda o Afeganistão e o Iêmen nos países objetos da ação mortal dos drones. Condenar à morte sem julgamento é proibido pela Constituição dos EUA.

Por iniciativa do Congresso e aprovação de Obama, instituiu-se uma lei que permite ao presidente mandar prender suspeitos e mantê-los encarcerados indefinidamente, sem julgamento. Novo desrespeito à Constituição de Jefferson, Washington, Tom Payne e outros pais da pátria.

No escândalo de Abu Ghraib, que chocou o mundo, o coronel Thomas Papas, supervisor do brutal tratamento de centenas de detentos, foi processado, sim. No entanto, pegou apenas uma multa de 8 mil dólares...

Enquanto isso, Bradley Manning, que foi submetido a uma prisão abusiva, passando inclusive muitos meses em prisão solitária, recebeu uma pena duríssima.

Crimes muito mais graves do que as infrações de Manning contra códigos militares não são sequer levados a julgamento pelo governo estadunidense. E perdoa seus agentes quando também agem assim.

Tal governo se dá o direito de desrespeitar as leis internacionais e norte-americanas, sempre que lhe interessa.

Mas denunciar as coisas que quer esconder por receio da opinião pública, isso é imperdoável. Que as penas da lei caiam sobre o atrevido!

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.