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Ministro defende aprovação de lei para ampliar terceirização
Tema é polêmico, já que contratação seria possível em qualquer atividade
O
ministro do Trabalho, Manoel Dias, filiado ao PDT, defende a ampliação da
terceirização para todas as atividades da economia, não apenas as atividades
meio - consideradas não essenciais na empresa. Ao GLOBO, o ministro disse que o
recurso da terceirização já está generalizado e, por isso, há necessidade
urgente de aprovação de lei para regulamentar o assunto. Só assim, destacou,
será possível proteger as duas partes: patrões e trabalhadores.
Ele faz
parte do grupo de trabalho criado pelo governo para tentar fechar com as
centrais sindicais um acordo que viabilize a aprovação do projeto que
regulamenta as atividades terceirizadas. A votação na Câmara dos Deputados está
prevista para o início de setembro.
O
projeto, de autoria do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), abre a possibilidade de
as empresas terceirizarem qualquer atividade. Hoje, não existe lei no país que
trate da terceirização, apenas a Súmula 331/1995, do Tribunal Superior do
Trabalho (TST), que permite o uso do recurso nas atividades meio e, ainda
assim, desde que não haja subordinação direta entre a tomadora do serviço e os
trabalhadores terceirizados.
O ministro
do Trabalho discorda do argumento das centrais sindicais de que a aprovação do
projeto vá resultar em aumento da precarização do trabalho.
-- Nós
defendemos que haja um acordo para proteger os dois lados -- disse o ministro,
acrescentando que a proposta evoluiu no sentido de exigir das empresas
contratantes maior responsabilidade e fiscalização.
Ele
destacou que, para proteger os trabalhadores, a contratante terá que fazer um
levantamento prévio da situação da contratada, incluindo regularidade fiscal,
saúde financeira e capacidade gerencial. Além disso, as empresas terão que
fiscalizar se a prestadora do serviço paga direitos trabalhistas.
-- Se não
houver esse cuidado, a contratante será corresponsável, caso aconteça algum
problema com os trabalhadores -- explicou o ministro.
Mais
mortes entre terceirizados
O não
pagamento dos direitos trabalhistas é uma das principais queixas na Justiça.
Muitas prestadoras fecham as portas e deixam os trabalhadores na mão, mesmo
tendo recebido pelo serviço.
O
relatório do deputado Arthur Maia (PMDB-BA), que regulamenta a terceirização,
está previsto para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no
dia 4 de setembro. Tem caráter terminativo, ou seja, se não houver recurso,
segue direto para o Senado. A permissão de contratação de terceirizados nas
atividades fim é o item mais polêmico do projeto de lei, divide as centrais
sindicais e encontra resistência do Ministério Público do Trabalho. Na véspera
da votação, haverá uma nova reunião do grupo de trabalho, na tentativa de
costurar um texto de consenso.
O
presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), disse que
apoia o projeto, mas que a central não vai defender a proposta isoladamente.
Aguarda uma definição das outras entidades para se posicionar. Em comunicado
divulgado na sexta-feira, a CUT informou que vai trabalhar contra o projeto.
Uma mobilização nacional foi marcada pela entidade no dia 30 de agosto.
O
procurador do Trabalho José Lima, que está à frente da Coordenadoria Nacional
de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho, do Ministério Público Federal,
é contra a terceirização nas atividades fim -- que, segundo ele, tem resultado
em mortes de trabalhadores nos setores elétrico e petrolífero.
-- Estes
trabalhadores não têm o treinamento necessário para o exercício da função. No
setor elétrico, por exemplo, a incidência de morte entre os terceirizados é
quatro vezes maior do que as ocorrências entre os funcionários das
concessionárias -- disse o procurador, lembrando que o MP move ações contra
empresas em sete estados.
Só 8,7
dos processos do TST são sobre terceirização
Segundo
ele, outros dois setores com forte incidência de irregularidades envolvendo a
terceirização (60% a 70% das denúncias que chegam à coordenadoria) são
construção civil e as atividades de florestamento -- áreas em que o MP tem
tentado negociar termos de ajuste de conduta.
De acordo
com levantamento do Tribunal Superior do Trabalho (TST), dos 187.919 processos
em tramitação no órgão com assunto cadastrado, 20.886 (8,7%) referem-se a
irregularidades no processo de terceirização. Esse universo pode ser maior
porque não foram computadas cerca de 46 mil ações sem especificação e, além
disso, não foram consideradas queixas em instâncias inferiores.
Para o
professor de Relações do Trabalho da USP, José Pastore, esses números reforçam
a necessidade de o país ter regras para disciplinar o processo da
terceirização, uma tendência mundial.
-- Não
importa se a terceirização ocorre na atividade meio ou fim. Isso é um critério
subjetivo. O mais importante é garantir a proteção aos trabalhadores -- disse o
professor.
A gerente
executiva de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
Sylvia Lorena, destacou que a contratante terá que incluir no contrato assinado
com a prestadora do serviço algum tipo de garantia, como seguro ou fiança
bancária para cobrir eventuais irregularidades. A CNI, diz Sylvia, defende a
terceirização irrestrita.
Fonte: O Globo